Quando fui convidado para realizar a palestra tratando o tema: “O SUICÍDIO E SUAS CONSEQUÊNCIAS”, fiquei em primeiro
instante feliz pela oportunidade, mas de imediato me vi apreensivo. Muitas
indagações surgiram, mas o certo em minha consciência era que não dava para
tratá-lo com simples achismos, em consequência da seriedade que o tema nos
traz. Sei que temos muitas dúvidas.
E para as vítimas deste ato? Muita dor e sofrimento, não apenas
para seus familiares, mas também para os próprios irmãos que decidiram acabar
desta forma, com sua existência carnal.
E para a surpresa destes irmãos, que tomaram a decisão de
suicidar-se, a descoberta que a vida não acaba, quando morremos o que se acaba
é o corpo e a surpresa maior: Despertam em outro plano de vida. O Mundo
Espiritual.
Sei que todos fazem muitas perguntas em torno deste tema: O
que faz uma pessoa tomar tal decisão? Porque decidir abdicar da própria vida? E
eu como fico sem você? Como você estará agora? Deus perdoa um suicida? Será que
quem se mata vai para o inferno? O que faltou para que você não fizesse isso?
Onde eu errei com você? O que você fez consigo?
Daria para fazermos muito mais perguntas. Mas eu lhes faço
outra pergunta: Onde ficaria o livre arbítrio? Sabemos que a vida é feita de
escolhas e que o simples fato de se fechar em copas pode gerar momentos de individualidade
e, por consequência, a DEPRESSÃO.
Observem que muitas das informações que recebemos de irmãos
que se suicidaram, passavam por momentos de solidão, de tristeza profunda, de
depressão até chegarem à consumação deste fato. E porque tudo isso? Diz Allan
Kardec no livro O Céu e o inferno que “A felicidade perfeita é inerente à
perfeição, isto é, à completa depuração do Espírito. Toda imperfeição é, ao
mesmo tempo, causa de sofrimento e de privação de gozo, do mesmo modo que toda
qualidade adquirida é fonte de gozo e de atenuação dos sofrimentos” CI – Parte
primeira – Cap. VII pag. 122.
Partindo por este prisma, começamos a refletir as causas do
Suicídio e por consequência os seus efeitos. Ninguém fica impune diante das
leis divinas. A Lei de Causa e Efeito ou de Ação e Reação diz que para toda
ação haverá uma reação oposta na mesma proporção, na mesma intensidade. É como
o nosso pensamento, se pensamos com amor, recebemos amor, se pensamos com ódio,
recebemos o ódio.
Procurei ler livros, textos que me trouxessem esclarecimentos
sobre este assunto, e num deles o Livro “Memórias de um suicida” escrito pela
médium Ivone do Amaral Pereira, o espírito Camilo Cândido Botelho nos traz
informações do seu desencarne e de sua experiência no plano espiritual. Ele nos
conta que a decisão de se matar trouxe tristes consequências principalmente por
ignorar que tudo não se acabaria com a extinção da vida física. E narra no
primeiro momento em que se percebe ainda vivo, mas em espírito: “Fora eu
surpreendido com meu aprisionamento em região do Mundo Invisível, cujo
desolador panorama era composto por vales profundos, a que as sombras
presidiam: gargalhadas sinuosas e cavernas sinistras, no interior das quais
uivavam, quais maltas de demônios enfurecidos, Espíritos que foram homens,
dementados pela intensidade e estranheza, verdadeiramente inconcebíveis, dos
sofrimentos que os martirizavam”.
Além do irmão Camilo Cândido Botelho o André Luiz
descreve no livro Nosso Lar suas primeiras experiências assim: “Sentia-me,
na verdade, amargurado, duende nas grades escuras do horror. Cabelos eriçados,
coração aos saltos, medo terrível senhoreando-me, muita vez gritei como louco,
implorei piedade e clamei contra o doloroso desânimo que me subjugava o
espírito; mas, quando o silêncio implacável não me absorvia a voz estentórica,
lamentos mais comovedores que os meus respondiam-me aos clamores. Outras vezes
gargalhadas sinistras rasgavam a quietude ambiente. Algum companheiro
desconhecido estaria, a meu ver, prisioneiro da loucura. Formas diabólicas,
rostos alvares, expressões animalescas surgiam, de quando em quando,
agravando-me o assombro. A paisagem, quando não totalmente escura, parecia
banhada de luz alvacenta, como que amortalhada em neblina espessa, que os raios
de Sol aquecessem de muito longe.”
Estes textos nos descrevem o quanto triste é a região umbralina
onde os espíritos que se suicidam são destinados. Vejam que existem neste local
muita dor e sofrimento. E até que ocorra o socorro, dentro do merecimento de
cada espírito, muitas aflições, que pode durar, dias, meses, anos, até séculos
dado o grau de endurecimento que alguns tenham em seus corações.
Existem dois tipos de suicidas: O voluntário e o
involuntário. Claro que em nenhum dos dois o ser que se destina a fazer, não
será menos responsável por ato tão vil. Como disse o nosso irmão de Lion “Ninguém
fica impune diante das leis divinas”. Enquanto o ser que voluntariamente
extingue sua vida por egoísmo, falta de fé, orgulho e maledicências diversas, o
involuntário o faz através de diversos tipos de desregramentos que poderíamos
nos ousar a elencar entre: hipocondria, uso do álcool, uso do fumo, alimentação
desregrada, ódio, vingança, inveja e ociosidade. Há também os casos de quadros
obsessivos, onde o indivíduo que está passando por um momento de fraqueza e em
consequência de atitudes que causaram dor, sofrimento e tristezas diversas nas
vidas de outros seres no pretérito e por não reconhecer seu ato como algo mal,
não se arrepender e nem tão pouco pedir perdão, ao ser reencontrado por sua
vítima pode ser conduzido, por oferecer sintonia com o mesmo, a desistir da
vida. Pode ser conduzido, mesmo que inconscientemente, involuntariamente, ao
suicídio. Claro que se o espírito é nobre, pratica o bem, o amor
incondicionalmente, faz caridade e age de forma espontânea ajudando aos mais
necessitados, este estará protegido e abençoado por Deus impedindo a
aproximação destes pobres e sofredores espíritos.
Deus, justo, soberanamente bom, jamais deixará seus filhos
sofrer, se o sofrimento não for uma opção reencarnatória, assumida a fim de
purificação do espírito para sua redenção.
E nós que estamos nesta romagem, devemos em processo de
reforma íntima, numa melhoria contínua, lutar contra nossas fraquezas, nossas
tendências danosas para vencer ao mal, fortalecendo-nos pela fé, em preces
constantes, em rogativas para Deus pedindo sua orientação, para através do amor,
ajudar aos nossos irmãos que sofrem deste triste problema, com fortes
tendências ao suicídio.
Quanto aos irmãos que partiram desta forma, através de
informes do plano espiritual, sabemos que além do Hospital Santa Maria, tem
outros tantos hospitais, que acolhem estes sofridos e queridos filhos de Deus,
com os mais variados motivos de desencarne, onde através de terapias e
processos de recuperação com o apoio dos enfermeiros e médicos espirituais,
esclarecendo o quanto triste foi sua decisão e os convidando a se recuperar e
ao mesmo tempo, de acordo com o nível de consciência, aceitação e resignação de
cada um, renovar seus votos de amor a Deus retornando para uma nova vida,
fortalecidos também pela esperança, mesmo que em corpo deficiente para
purificar-se através da dor e do sofrimento.
Aquele que desistiu da vida com um tiro na cabeça, poderia
retornar com uma deficiência mental, o que praticou mal com afogamento, poderia
retornar com deficiência cardíaca ou respiratória, outro que poderia ter
fraquezas múltiplas em função de dependência alcoólica ou química, um
cadeirante, uma ausência de uma perna ou braço, mas a certeza é que a
providência divina aceita tal pedido como uma condição moral necessária para a
purificação do ser como a busca contínua pelo aperfeiçoamento espiritual.
Aqui estamos para evoluir e isto significa que temos que
combater sempre ao orgulho, a vaidade, a inveja, o desamor, a ociosidade. O
espiritismo nos ensina que somos eternos e é justamente na certeza de uma nova
vida que devemos nos renovar na fé praticando incessantemente o bem, a caridade
incondicionalmente, sem nada esperar em troca. Que devemos nos renovar a cada
dia dando testemunho desta certeza racional. Que o acaso não existe e que não
estamos aqui apenas para nascer viver e morrer, pois assim nada teria sentido.
Temos que dar nossa contribuição, não apenas para nossa
existência, mas também para os nossos entes queridos comprovando através de
ações voluntárias, espontâneas, sem propósitos maiores além da felicidade
suprema.
Se precisarmos sofrer para amadurecer, nos fortalecemos na
fé. Se nos sentirmos enfraquecidos com as duras provas que a vida nos traz, lembremo-nos
de Jesus que seguiu seu calvário molestado e humilhado diversas vezes e em
nenhum momento se rebelou, pois sabia Ele que havia um propósito maior, Ele
morria para a redenção dos nossos pecados. Ele sim foi forte e não desistiu da
vida, ao contrário, foi morto para salvar toda uma sequencia de vidas a partir dali
viriam ao nosso planeta criando novas condições para nossa evolução. Claro que
muitos erros aconteceriam, mas nada que não tenha sido planejado por nosso Pai,
Querido Deus. Ele nos deixa a vontade pra decidir se que queremos evoluir ou
não. A nossa consciência irá nos mostrar o caminho certo a seguir, mas não se
iludam, nesta vida estamos para o AMOR.
Desistir dela, A VIDA, é um ato de fraqueza, de pouca fé, de
desamor.
E desde o dia em que recebi este convite, durante o dia-a-dia
me ocorreram várias notícias de pessoas que se suicidaram, a mãe de uma amiga,
a filha da secretária de outra, o primo de mais uma amiga e ontem para
complementar estas notícias realizei um atendimento na nossa casa de trabalho,
a Casa da Sopa de um irmão que tem tendências suicidas. E neste momento me veio
um pensamento, será que isto é um laboratório ou mais uma oportunidade de
ajudar a este irmão. Segui pela segunda opção e enquanto o atendia pedia a Deus
para iluminar este ser e também inspiração, ajuda aos amigos espirituais para
me orientar a fim de encontrar as palavras certas a dizer para ele. Este irmão
tinha em suas mãos um violão que foi utilizado com as canções ajudando-nos na
preparação das atividades da casa e ali me veio a mensagem seguinte: veja como
ele toca bem, veja que ele tem arte, arte é beleza, arte é pureza, ai está o
seu brilho, valorize o que de bom este irmão tem. E sabem por que tanta
depressão, além da dependência de álcool e drogas, o simples fato de sua mãe
não o procurar mais, de desistir dele. Havia muita tristeza em suas palavras,
muita dor. Dizia ele que se sentia vazio por sentir falta do amor materno.
Não observar a quem sofre é contribuir também com tais
atitudes. Olhemos atentamente para o nosso próximo para que o nosso verdadeiro
AMOR os impeçam de seguir nas sombras do suicídio. E aos que foram, oremos,
peçamos a Deus para ter resignação, compaixão e envie os mensageiros do amor
para socorrê-los.
Prece:
“Deus, Pai amado, tende compaixão de nós. Acolhei o nosso
pedido por nossos irmãos que sofrem em consequência do suicídio. Olha para eles
com tua bondade e perdoa-lhes, querido Deus. Permita que os nossos amigos
espirituais, médicos e enfermeiros, que já prepararam este ambiente, deem o
devido socorro a estes tantos irmãos que aqui nos acompanham. Sabemos que
jamais desistes de nós. Então ousamos ainda mais te pedir que nos proteja,
mantendo sempre ao nosso lado os nossos anjos guardiões, nos fortalecendo,
orientando, nos conduzindo pelo caminho do bem. Obrigado Senhor Deus. Assim
seja!”
Fernando Oliveira – 15.05.2012
Palestra realizada no SEJA em 15.05.2012.