sexta-feira, 20 de julho de 2018

Conhecimento e livre-arbítrio: ferramentas para evolução do espírito.


Vamos iniciar nossas reflexões sobre este tema trazendo três definições que serão os pilares para desenvolvermos nosso pensamento.

Na primeira, trazemos Kardec com a seguinte questão:
“Tem o homem o livre-arbítrio de seus atos?”

“Pois que tem a liberdade de pensar, tem igualmente a de obrar. Sem o livre-arbítrio, o homem seria máquina.” (Livro dos Espíritos – pergunta 843)

Já nessa resposta que os espíritos fazem ao Kardec, lembramos o Filósofo René Descartes, que afirma: “PENSO, LOGO EXISTO”. Descarte desejava, através desta afirmativa, obter o conhecimento absoluto, irrefutável e inquestionável.

Vale salientar que Kardec era seguidor do pensamento filosófico de Descartes considerando a possibilidade de descartar varias hipóteses para considerar uma verdade.

A Doutrina Espírita preconiza a ideia de que o espírito é livre para tomar suas decisões, fazer suas escolhas e seguir a direção que lhe parecer conveniente. Este princípio, está embasado sob o conceito de liberdade que até na sociedade se estabelece, tendo em vista que, em sua essência, este é um direito legado a todo ser humano.

Dos três aspectos fundamentais da Doutrina Espírita, destacamos o filosófico que aborda o princípio da relação entre os homens, observando e entendendo seus problemas, sua origem e sua destinação, bem como as consequências morais destas relações. Este destaque se faz necessário para podermos articular e evidenciar os conceitos que serão abordados a partir de então.

Dentro desta analogia, vamos discutir o que popularmente conhecemos como livre-arbítrio.

A segunda definição vem através de Rodolfo Calligaris no Livro As Leis Morais, onde afirma que o livre arbítrio é “a faculdade que tem o indivíduo de determinar a sua própria conduta”, ou, em outras palavras, a possibilidade que ele tem de, “entre duas ou mais razões suficientes de querer ou de agir, escolher uma delas e fazer que prevaleça sobre as outras”.

E a terceira definição é de Léon Denis, no Livro O problema do ser, do destino e da dor, onde afirma que: “a liberdade é a condição necessária da alma humana que, sem ela, não poderia construir o destino.”

Partindo destes princípios, vamos aventar nossos pensamentos.

No entanto, esta liberdade se restringe quando, partindo do pressuposto que para construí-la, por consequência obter o livre-arbítrio, o homem a priori está condicionado se submeter a regras de convivência e aceitar no conjunto do que as estabelecem os limites que estas relações impõem.

Se dentro do que se restringem as relações da convivência entre os homens, pressupõe-se que o mesmo tem como principio de direito, a liberdade de ir e vir e de expressão. Seguindo a ideologia de unidade, saindo do eixo da individualidade e expandindo para o contexto de conjunto, comunidade, o então livre-arbítrio passa a se restringir ao conceito básico, o de que esta dita liberdade, de determinar sua própria convivência, infringe o principio de que o direito de um cessa quando o mesmo não aflige o da outra personalidade ou individualidade.

Daí vem a orientação constante no Evangelho segundo o espiritismo, capítulo 12, item 14: “Não façais aos outros, o que não quereríeis que vos fizessem”.

Partindo deste princípio, notadamente, o que condiciona toda esta liberdade fica restrito a um nível de abrangência que impede do então liberto dos conceitos sociais, assumir a obrigação de respeitar aos princípios básicos de convivência, de forma que o bem-estar não fique limitado a satisfazer apenas uma pessoa, mas sim um conjunto de indivíduos, família, agrupamento, comunidade, nação, e, finalmente, a humanidade.

Seguindo esta lógica de raciocínio, mesmo que intuitivamente, um ser, ou conjunto de pessoas, sabem que a felicidade não se restringe tão somente à fomentação dos recursos por elas mesmas criadas e sim por todos os membros da convivência comum. Faz-se necessário então expandir a linha do conhecimento, ainda restrito nas miopias individualistas, passando a se ter um olhar para além, sendo obrigatório se permitir sair da zona de conforto, seguindo então para o imprescindível estudo dos diversos aspectos que definem as relações dos homens, sejam nos variados contextos do conhecimento, à religião, à ciência e à filosofia.

Estes paradigmas nos condicionam a abrir o olhar e nos faz perceber a atualidade da Codificação Espírita, quando saindo dos conceitos minimalistas do então espiritualismo, descoberto através das sensacionalistas exposições em meados do século 19, com as batidas e movimentos das mesas, para novos contextos da fé raciocinada, à comprovação da comunicabilidade dos espíritos, fazendo então o Sr. Alan Kardec expandir seu olhar para o novo, trazendo à luz do conhecimento o que definiu então como Espiritismo, que sai dos princípios materialistas, à certeza da existência dos espíritos, mas fazendo-nos entender que, além disso, deveríamos trabalhar a moralidade, a fé raciocinada e a consciência.

E das muitas orientações, decorrentes da compilação da codificação espírita e do severo estudo e pesquisa realizados, recebemos a seguinte orientação do Espírito Verdade: “Espíritas, amai-vos, eis o primeiro ensinamento. Instruí-vos, eis o segundo.” (ESE-Cap. 6, item 5)

Esta sentença nos leva a concepção de que, mesmo tendo como essência do espírito o livre-arbítrio, ou o princípio de liberdade, sem conhecimento estaríamos fadados a infringir tudo que fomenta tais conceitos. Também, partindo da orientação do “amai-vos”, percebemos que estando isolados não poderíamos vivenciar as verdadeiras lições que a vida nos proporciona, a vida corpórea, que é a sentença do aprendizado, a oportunidade da evolução através de nossa transformação moral e intelectual.

No entanto, não podemos deixar de considerar que se o conhecimento é-nos dado por Deus, e ainda assim permite que tenhamos a condição de espíritos livres para trilhar nosso caminho, fazer nossas escolhas, e neste trajeto ainda terminamos por desviá-lo, atrasando o processo de nossa evolução, entendemos porque Jesus afirma: “Pedir-se-á muito àquele que muito recebeu, e prestará contas aquele a quem foram confiadas muitas coisas. (Lucas, 12:47 e 48), ou seja, muito será cobrado à quem muito foi dado.

Assim faz sentido o alerta de Léon Denis: “A questão do livre-arbítrio tem uma importância capital e graves consequências para toda a ordem social, por sua ação e repercussão na educação, na moralidade, na justiça, na legislação, etc.” (Livro: O problema do ser, do destino e da dor).

E continua: “O Espírito só está verdadeiramente preparado para a liberdade no dia em que as leis universais, que lhe são externas, se tornem internas e conscientes pelo próprio fato de sua evolução. No dia em que se penetrar da lei e fizer dela a norma de suas ações, terá atingido o ponto moral em que o homem se possui, domina e governa a si mesmo.

“Libertando-se das paixões e da ignorância, cada homem liberta seus semelhantes. Tudo o que contribui para dissipar as trevas da inteligência e fazer recuar o mal, torna a humanidade mais livre, mas consciente de si mesma, de seus deveres e potências.”

Preconizar o Livre-arbítrio sem oferecer os insofismáveis recursos do conhecimento, para o homem alçar voo no seu processo evolutivo, associado às mudanças comportamentais, amaciando os sentimentos e as emoções, significa impedi-lo de obter, no tempo propício, a evolução moral e consequentemente a evolução espiritual.

Se estamos certos de que estes conceitos devem ser postos em prática, obteremos os resultados propostos então por Deus a todos os seres da criação e em especial a nós que estagiamos transitoriamente na terra para esta proposta.

Daí será possível ter a fácil conclusão: O livre arbítrio, associado ao conhecimento, são ferramentas para nossa evolução espiritual.

Fernando Oliveira.

Nenhum comentário:

Postar um comentário