Vamos iniciar nossas
reflexões sobre este tema trazendo três definições que serão os pilares para
desenvolvermos nosso pensamento.
Na primeira, trazemos
Kardec com a seguinte questão:
“Tem o homem o livre-arbítrio de seus atos?”
“Pois que tem a liberdade de pensar, tem igualmente a de obrar.
Sem o livre-arbítrio, o homem seria máquina.” (Livro dos Espíritos – pergunta 843)
Já nessa resposta que
os espíritos fazem ao Kardec, lembramos o Filósofo René Descartes, que afirma: “PENSO, LOGO
EXISTO”. Descarte desejava, através desta afirmativa, obter o conhecimento
absoluto, irrefutável e inquestionável.
Vale salientar que Kardec era seguidor do
pensamento filosófico de Descartes considerando a possibilidade de descartar
varias hipóteses para considerar uma verdade.
A Doutrina Espírita
preconiza a ideia de que o espírito é livre para tomar suas decisões, fazer
suas escolhas e seguir a direção que lhe parecer conveniente. Este princípio,
está embasado sob o conceito de liberdade que até na sociedade se estabelece,
tendo em vista que, em sua essência, este é um direito legado a todo ser
humano.
Dos três aspectos
fundamentais da Doutrina Espírita, destacamos o filosófico que aborda o
princípio da relação entre os homens, observando e entendendo seus problemas,
sua origem e sua destinação, bem como as consequências morais destas relações. Este
destaque se faz necessário para podermos articular e evidenciar os conceitos
que serão abordados a partir de então.
Dentro desta analogia,
vamos discutir o que popularmente conhecemos como livre-arbítrio.
A segunda definição
vem através de Rodolfo Calligaris no Livro As Leis Morais, onde afirma que o livre arbítrio é “a faculdade que tem o indivíduo de determinar a sua própria conduta”,
ou, em outras palavras, a possibilidade que ele tem de, “entre duas ou mais
razões suficientes de querer ou de agir, escolher uma delas e fazer que
prevaleça sobre as outras”.
E a terceira definição é de Léon Denis, no Livro O problema do ser, do
destino e da dor, onde afirma que: “a
liberdade é a condição necessária da alma humana que, sem ela, não poderia
construir o destino.”
Partindo destes princípios, vamos aventar nossos pensamentos.
No entanto, esta liberdade se restringe quando, partindo do
pressuposto que para construí-la, por consequência obter o livre-arbítrio, o
homem a priori está condicionado se submeter a regras de convivência e aceitar
no conjunto do que as estabelecem os limites que estas relações impõem.
Se dentro do que se restringem as relações da convivência entre os
homens, pressupõe-se que o mesmo tem como principio de direito, a liberdade de
ir e vir e de expressão. Seguindo a ideologia de unidade, saindo do eixo da
individualidade e expandindo para o contexto de conjunto, comunidade, o então
livre-arbítrio passa a se restringir ao conceito básico, o de que esta dita
liberdade, de determinar sua própria convivência, infringe o principio de que o
direito de um cessa quando o mesmo não aflige o da outra personalidade ou
individualidade.
Daí vem a orientação constante no Evangelho segundo o espiritismo, capítulo
12, item 14: “Não façais aos outros,
o que não quereríeis que vos fizessem”.
Partindo deste princípio, notadamente, o que condiciona toda esta
liberdade fica restrito a um nível de abrangência que impede do então liberto
dos conceitos sociais, assumir a obrigação de respeitar aos princípios básicos
de convivência, de forma que o bem-estar não fique limitado a satisfazer apenas
uma pessoa, mas sim um conjunto de indivíduos, família, agrupamento, comunidade,
nação, e, finalmente, a humanidade.
Seguindo esta lógica de raciocínio, mesmo que intuitivamente, um ser,
ou conjunto de pessoas, sabem que a felicidade não se restringe tão somente à
fomentação dos recursos por elas mesmas criadas e sim por todos os membros da
convivência comum. Faz-se necessário então expandir a linha do conhecimento,
ainda restrito nas miopias individualistas, passando a se ter um olhar para
além, sendo obrigatório se permitir sair da zona de conforto, seguindo então
para o imprescindível estudo dos diversos aspectos que definem as relações dos
homens, sejam nos variados contextos do conhecimento, à religião, à ciência e à
filosofia.
Estes paradigmas nos condicionam a abrir o olhar e nos faz perceber a
atualidade da Codificação Espírita, quando saindo dos conceitos minimalistas do
então espiritualismo, descoberto através das sensacionalistas exposições em
meados do século 19, com as batidas e movimentos das mesas, para novos
contextos da fé raciocinada, à comprovação da comunicabilidade dos espíritos,
fazendo então o Sr. Alan Kardec expandir seu olhar para o novo, trazendo à luz
do conhecimento o que definiu então como Espiritismo, que sai dos princípios
materialistas, à certeza da existência dos espíritos, mas fazendo-nos entender
que, além disso, deveríamos trabalhar a moralidade, a fé raciocinada e a
consciência.
E das muitas orientações, decorrentes da compilação da codificação
espírita e do severo estudo e pesquisa realizados, recebemos a seguinte
orientação do Espírito Verdade: “Espíritas, amai-vos, eis o primeiro ensinamento.
Instruí-vos, eis o segundo.” (ESE-Cap.
6, item 5)
Esta sentença nos leva a concepção de que, mesmo tendo
como essência do espírito o
livre-arbítrio, ou o princípio de liberdade, sem conhecimento estaríamos fadados a infringir tudo que fomenta tais
conceitos. Também, partindo da orientação do “amai-vos”, percebemos que
estando isolados não poderíamos vivenciar as verdadeiras lições que a vida nos
proporciona, a vida corpórea, que é a sentença do aprendizado, a oportunidade
da evolução através de nossa transformação moral e intelectual.
No entanto, não podemos deixar de considerar que se o
conhecimento é-nos dado por Deus, e ainda assim permite que tenhamos a condição
de espíritos livres para trilhar nosso caminho, fazer nossas escolhas, e neste
trajeto ainda terminamos por desviá-lo, atrasando o processo de nossa evolução,
entendemos porque Jesus afirma: “Pedir-se-á muito àquele que muito recebeu, e
prestará contas aquele a quem foram confiadas muitas coisas. (Lucas, 12:47 e 48), ou seja, muito será
cobrado à quem muito foi dado.
Assim faz sentido o alerta de Léon Denis: “A questão do livre-arbítrio tem uma importância
capital e graves consequências para toda a ordem social, por sua ação e
repercussão na educação, na moralidade, na justiça, na legislação, etc.” (Livro:
O problema do ser, do destino e da dor).
E continua: “O
Espírito só está verdadeiramente preparado para a liberdade no dia em que as
leis universais, que lhe são externas, se tornem internas e conscientes pelo
próprio fato de sua evolução. No dia em que se penetrar da lei e fizer dela a
norma de suas ações, terá atingido o ponto moral em que o homem se possui,
domina e governa a si mesmo.”
“Libertando-se das paixões e da ignorância, cada homem
liberta seus semelhantes. Tudo o que contribui para dissipar as trevas da
inteligência e fazer recuar o mal, torna a humanidade mais livre, mas
consciente de si mesma, de seus deveres e potências.”
Preconizar o Livre-arbítrio sem oferecer os
insofismáveis recursos do conhecimento, para o homem alçar voo no seu processo
evolutivo, associado às mudanças comportamentais, amaciando os sentimentos e as
emoções, significa impedi-lo de obter, no tempo propício, a evolução moral e
consequentemente a evolução espiritual.
Se estamos certos de que estes conceitos devem ser
postos em prática, obteremos os resultados propostos então por Deus a todos os
seres da criação e em especial a nós que estagiamos transitoriamente na terra
para esta proposta.
Daí será possível ter a fácil conclusão: O livre
arbítrio, associado ao conhecimento, são ferramentas para nossa evolução
espiritual.
Fernando Oliveira.
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